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Morre a atriz Aracy Balabanian aos 83 anos

Fonte: Correio24horas

Na manhã desta segunda-feira (7), o Brasil perdeu uma das maiores atrizes da televisão, Aracy Balabanian. Ela estava internada na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

“Foi uma tourada”, diz Aracy Balabanian a respeito do início de sua carreira. Filha de imigrantes armênios, ela nasceu 22 de fevereiro de 1940. Teve a paixão despertada irremediavelmente pelo teatro ainda criança, quando já morava em São Paulo e foi levada pelas irmãs mais velhas para assistir a uma peça de Carlo Goldoni com a companhia de Maria Della Costa. “Eu chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades”, relembra.

E para realizar este sonho, teve que driblar o preconceito, principalmente dentro de casa: seu pai não aceitava a escolha da filha em ser atriz: “Eu comecei numa época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro”. Aracy despontou na televisão como a Gabriela do infantil ‘Vila Sésamo’, de 1973, e brilhou como protagonista nas novelas ‘Corrida do Ouro’ (1974) e ‘Bravo!’ (1975), e surpreendeu o público com as revelações da manipuladora Filomena Ferreto, em ‘A Próxima Vítima’ (1995). Mas, até hoje, gosta de se lembrar da divertida Cassandra, de ‘Sai de Baixo’. Para a atriz, o humorístico representava “o sonho de todo ator”, porque misturava teatro com televisão, abrindo espaço para o improviso em cena: “o público gostava quando a gente errava”.

por
Aracy Balabanian
“O ator é um contador de histórias. Mas ele tem que contar bonito para as pessoas terem vontade de ouvir”

Teatro do estudante

Quando tinha 14 anos, Aracy Balabanian assistiu, no Colégio Bandeirantes, onde estudava, a uma palestra de Augusto Boal, então diretor do Teatro de Arena. Convidada pelo dramaturgo, fez um teste e entrou para o Teatro Paulista do Estudante. Seu primeiro trabalho foi a peça ‘Almanjarra’, de Arthur Azevedo, que lhe valeu elogios dos críticos Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi. “Eles escreveram uma crítica que terminava dizendo: ‘Aracy Balabanian: guardem esse nome’. Eu fiquei possuída”. Fez vestibular aos 18 anos para a Escola de Arte Dramática de São Paulo e para Ciências Sociais, na USP – este, atendendo ao desejo do pai. Aprovada em ambos, abandonou o último no terceiro ano para se dedicar totalmente ao teatro. Participou de espetáculos encenados pelo Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC – entre eles, ‘Os Ossos do Barão’, de Jorge Andrade, em 1963 – e integrou o elenco da primeira montagem no Brasil do musical ‘Hair,’ em 1969, dirigido por Ademar Guerra.

Em 1965, depois de estrelar uma adaptação da peça ‘Antígona’, de Sófocles, em um teleteatro da TV Tupi, iniciou uma sólida carreira na televisão, trabalhando em mais de 30 novelas. A primeira foi ‘Marcados pelo Amor’ (1965), de Walther Negrão, na TV Record. Em seguida, na Tupi, participou de ‘Um Rosto Perdido’ (1966), de Walter George Durst, e ‘Antônio Maria’ (1968), de Eloy Santos, um grande sucesso na qual foi o par romântico do ator Sérgio Cardoso. A novela fez seu pai, fã do ator, finalmente aceitar sua escolha profissional: “Eu costumo dizer que o Brasil parou nessa novela e o meu pai parou em mim”, conta. Naquela emissora, participou ainda de ‘Nino, o Italianinho’ (1969) e ‘A Fábrica’, ambas de Geraldo Vietri, entre outras.

Estreia na Globo

A estreia na Globo aconteceu em 1972, em ‘O Primeiro Amor’. Na novela de Walther Negrão, foi a psicóloga Giovana, que disputava o amor de Luciano (Sérgio Cardoso) com Paula (Rosamaria Murtinho) e Maria do Carmo (Tônia Carrero). Durante as gravações, Sérgio Cardoso morreu. “Foi uma comoção nacional. A novela teve que continuar. Ele foi substituído pelo compadre dele, o Leonardo Villar”. Em 1973, trabalhou no programa infantil ‘Vila Sésamo’. Nele, viveu Gabriela, par de Juca (Armando Bógus), e contracenava com bonecos, como Garibaldo (Laerte Morrone). “Vinte anos depois, eu comecei a ver moças e rapazes me chamando de ‘minha Xuxa’. É muito gratificante saber que tem crianças que aprenderam a falar cantando a musiquinha de Vila Sésamo”.

Ao longo da década de 1970, trabalhou ainda em novelas como ‘Bravo!’ (1975), de Janete Clair e Gilberto Braga (“Nunca vou me esquecer que a gente foi gravar no Pátio de São Pedro, no Recife, e, horas antes de começar, as pessoas já estavam em cima dos telhados assistindo”, conta); e ‘O Casarão’ (1976), de Lauro César Muniz. “Eu fazia uma personagem chamada Violeta, que era solteirona e vivia, por tabela, um romance que a mãe havia tido na mocidade”.

A desbocada trocadora de ônibus Maria-Faz-Favor de ‘Coração Alado’ (1980), de Janete Clair, foi a primeira personagem a lhe dar a chance de exercitar a veia humorística. “E começou a me afastar um pouco dessa figura da mocinha certinha, boazinha. Porque ela era muito louca”. Depois, esteve em ‘Elas por Elas’ (1982), de Cassiano Gabus Mendes, na qual fez Helena, mulher rica e mimada que tem um filho trocado na maternidade. Nos anos seguintes, atuou ainda nas novelas ‘Guerra dos Sexos’ (1983), de Silvio de Abreu; ‘Transas e Caretas’ (1984), de Lauro César Muniz; e ‘Ti-Ti-Ti’ (1985), de Cassiano Gabus Mendes, como a ardilosa Marta. “A base da novela era a disputa entre dois costureiros. Minha personagem trabalhava para um deles, interpretado pelo Reginaldo Faria, mas é demitida porque a filha dela havia se envolvido com o filho dele. Ela, então, vai trabalhar para o costureiro rival, que era feito pelo Luis Gustavo”.

A atriz afastou-se da Globo entre 1986 e 1988, quando integrou o elenco de duas novelas da Rede Manchete: ‘Mania de Querer’ (1986), de Sylvan Paezzo, e ‘Helena’ (1987), adaptada do romance de Machado de Assis por Mário Prata. Voltou à emissora em 1989, para interpretar a misteriosa Maria Fromet de ‘Que Rei Sou Eu?’, de Cassiano Gabus Mendes: “Eu fazia a mãe do verdadeiro sucessor do reino, que era o Edson Celulari”, diz.

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Rainha da Sucata. Crédito: divulgação

Em 1990, ganhou de Silvio de Abreu uma de suas personagens de maior sucesso na TV: a dona Armênia, de ‘Rainha da Sucata’, mãe superprotetora de três filhos à qual emprestou o sotaque e alguns costumes de seu povo de origem. “Minha mãe era uma mulher toda aplicada, mas nós tínhamos uma vizinha que falava muito alto, que se metia na vida de todo mundo. Então, eu fiz um pouco assim. Foi uma loucura o sucesso da personagem”. Dona Armênia agradou de tal forma o público e a crítica que Silvio de Abreu convidou a atriz e os atores que interpretavam seus filhos (Marcelo Novaes, Jandir Ferrari e Gérson Brenner) para viverem os mesmos personagens em ‘Deus nos Acuda’ (1992).

Do mesmo autor, ela fez também ‘A Próxima Vítima’ (1995), na qual interpretou Filomena Ferreto, uma matriarca autoritária e possessiva. “Tudo na personagem era duro, mas, lá no fundo, era uma manteiga derretida. Também me identifiquei demais com a Filomena porque ela era uma bobona com a sobrinha dela. Eu não tive filhos, mas criei uma sobrinha”, conta. O papel lhe deu o prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Sai de Baixo

“Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo. Só que era um espetáculo ensaiado em uma tarde”, lembra a atriz. Isso porque, em 1996, Aracy Balabanian começou a dar vida à socialite decadente Cassandra, do humorístico ‘Sai de Baixo’, criado por Luis Gustavo e Daniel Filho. O programa, exibido no domingo à noite, era gravado ao vivo em um teatro com plateia. A ideia da atração era incorporar todos os imprevistos e improvisos que podem ocorrer em cena, característica que lembrava muito os primeiros programas da televisão brasileira, da época em que ainda não existia videotape – o VT, que possibilita a edição das cenas gravadas.

Elenco de Sai de Baixo . Crédito: divuglação

‘Sai de Baixo’ também era estrelado por Luis Gustavo, Miguel Falabella, Marisa Orth, Cláudia Gimenez e Tom Cavalcante, e teve seis temporadas. “Marisa Orth e eu fomos as primeiras a chegar para o Daniel Filho e dizer: ‘Não vai dar, tira a gente’. Mas eu acho que nós fomos ficando sem-vergonhas e descobrimos que o público gostava mesmo era de nos ver errar. Quando passou esse susto de ‘não podemos errar’, a gente se divertiu muito”.

Em 2013 o Viva, em comemoração aos três anos do canal, produziu um especial de quatro episódios do seriado. ‘Sai De Baixo’ voltaria seis anos depois ao ganhar uma versão para o cinema. Na pele de Cassandra, Aracy fez uma participação especial.

No teatro, ela atuou em montagens consagradas como ‘Oh, que Delícia de Guerra’ (1966) e ‘Boa Noite, Mãe’ (1985), ambas com direção de Ademar Guerra; ‘O Tempo e os Conways’ (1985), dirigida por Eduardo Tolentino; e ‘Clarice, um Coração Selvagem’ (1998), com direção de Maria Lucya de Lima.

A atriz também participou das novelas ‘Da Cor do Pecado’ (2004), de João Emanuel Carneiro, na qual foi a fiel governanta Germana; e ‘Passione’ (2010), outra de Silvio de Abreu, como Gemma, irmã mais velha do protagonista Totó (Tony Ramos). Da tradicional matrona italiana, a atriz interpretou o papel da ucraniana Máslova Tilman em ‘Cheias de Charme’, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, em 2012.

Da Cor do Pecado. Crédito: divulgação

Em 2013, Aracy Balabanian interpretou um personagem bastante particular na segunda versão de ‘Saramandaia’, escrita por Ricardo Linhares. Embora tenha, mais uma vez, vivido uma mãezona, papel que desde Dona Armênia desempenhava com maestria, desta vez teria um filho um pouco diferente. A novela, cuja primeira versão é de 1976, foi escrita originalmente por Dias Gomes, com toques de realismo fantástico. Aracy viveu Dona Bubu, mãe de Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes), que, toda noite de quinta-feira, vira um lobisomem.

Em 2014, Aracy vive a dona de casa Iracema, em ‘Geração Brasil’. Durante as gravações, atriz teve que se afastar durante cerca de um mês em decorrência de uma infecção respiratória, mas, por outro lado, o pequeno núcleo que formou com as atrizes Daisy Lúcidi e Lady Francisco fez sucesso e foi ganhando espaço na trama.

Mais recentemente, Aracy Balabanian continuou mostrando seu talento nas novelas ‘Sol Nascente’ (2016) e ‘Pega Pega’ (2017). Em 2018, ganhou uma homenagem do elenco de ‘Malhação – Vidas Brasileiras’, quando completava 56 anos de carreira. A atriz fazia uma participação como Janete, a avó do personagem Kavaco (Gabriel Contente). No ano seguinte estrela o especial de fim de ano ‘Juntos a Magia Acontece’, interpretando Dona Rosa.